quinta-feira, 29 de maio de 2008

Verdade e Mentira no Banco dos Réus


Texto: 1 Samuel 18.14.

O ocorrido entre a petista e Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o Senador Agripino Maia, seu inquisidor na CPI dos “cartões corporativos”, trouxe a existência, mais uma vez, um antigo-novo debate sobre a hierarquia de valores no estudo da Ética Social.

O que a Ministra colocou – e com muita propriedade – foi que na Ditadura Militar não havia espaço para a verdade porque não havia espaço para a vida. Segundo Dilma Rousseff, na Ditadura falar “mentira” era coisa muito difícil, muito mais do que falar “verdade”.

Diante de fato tão sui generis como o aqui apresentado, permito-me uma digressão (recurso literário utilizado com o fim de esclarecer ou criticar o assunto em questão) um pouco sobre o tema em tela.

Problematização: Quando uma mentira vira verdade e quando uma verdade vira mentira?

I. Mentira Nunca É Mentira Quando Promove a Vida, Mas Também Nunca Será Verdade.

A. O caso da família de alemães que escondia judeus em sua casa.

B. O casal no ponto de ônibus que, mentindo, livra uma pessoa da morte.

C. As parteiras judias no Egito.

D. Deus manda Samuel dizer parte da verdade para Saul.

II. Verdade Que É Verdade Só Para Oprimir Vira Mentira Porque Mata a Vida

A. Existem dois tipos de verdade: uma verdade oficial e uma verdade verdadeira.

1. A verdade oficial é a forma conformada, conspirada, tabulada... de dizer a verdade.

2. A verdade real é a que interfere, enfrenta, confronta, denuncia, liberta...

B. Todos sabemos que a verdade é uma só. Mas, ao tomarmos conhecimento da realidade dos fatos que tão de perto nos rodeiam hoje, descobrimos que a verdade real, ou a verdade dos fatos freqüentemente acaba manipulada, seqüestrada, ocultada, falsificada, rotulada, domesti- cada, substituída... Substituída pela “verdade oficial”. A verdade oficial (ou institucionalizada) é a caricatura da verdade verdadeira, mas é fabricada pelos sistemas, que não gostam de deixar a verdade verdadeira circulando livremente por aí...

C. A lei tornou-se um absoluto, como Deus. Deixou de ser fonte geradora de vida e liberdade. Transformou-se num peso insuportável, sobretudo para os mais pobres (Mt 11.28). O legalismo tomou conta da interpretação: a lei acima de tudo, acima da vida. A vida tornou-se vítima das leis. Os pobres, os camponeses, as mulheres estavam praticamente impossibilitados de observar tantas leis. Por isso eram tratados como pecadores e impuros (Mc 2.16,17; Jo 7.49; Jo 9.34).

III. A Verdade Falada Como Mentira e a Mentira Falada Como Verdade

A. Isto me faz lembrar a história de um vendedor ambulante e um pregador ao ar livre. Ambos disputam o mesmo lugar. O primeiro, enfático e persuasivo, conquista a atenção dos transeuntes; o segundo, melancólica e timidamente, não consegue a atenção de ninguém. Ao final de tudo, o pregador procura o vendedor e lhe faz a seguinte pergunta: – Como o senhor consegue prender a atenção de toda essa gente? Ao que o vendedor lhe respondeu: “Eu falo mentiras como se fossem verdades; você fala verdades como se fossem mentiras”.

B. Falar a verdade como se estivesse mentindo é uma questão de postura e convicção. Há três casos na Bíblia interessantes:

1. Há os que querem mentir e não conseguem: Pedro (Mateus 26.47-56).

2. Há os que querem falar a verdade e não conseguem: os sacerdotes castigados (Malaquias 2.1-9).

3. E, por último, há os que falam a verdade, mas esta vem de fonte corrompida: a mulher adivinhadora de Filipos (Atos 16.16-18).

IV. O Difícil É Quando Falar Mentira É a Grande Verdade da Vida

. Em caso de opressão – estamos falando de caso excepcional – a mentira (a omissão) vira ato de bravura, coragem, fidelidade.

. Ninguém pode punir alguém que, por fidelidade e bravura, mente.

. À época da perseguição dos cristãos pelos romanos, dizer a verdade era pecado mortal. E outros momentos que a história nos relata de fúria, autoritarismo e morte por parte de governos anticristãos.

. Só que falar mentira nesses casos apresentados – não é o vício de mentir indiscriminadamente – é uma exceção que toda regra permite. Mas nunca será regra.

Conclusão: Há aqueles que mentem por achar legal mentir, mentem por negação do seu status, mentem por vício, mentem por deformação de caráter, mentem por questões patológicas, mentem argumentativamente, mentem por ausência de verdade, mentem porque acham mais facilidade em mentir, mentem por razões desconhecidas dos mortais. Todas essas razões são mentirosas; os que mentem assim, mentem para a sua própria condenação. A pior de todas essas apresentadas é a mentira religiosa, porque mentimos com postura de quem está falando a verdade.

9 comentários:

Carolina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Verine disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Verine disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Verine disse...

É um privilégio ser um dos primeiros a postar um comentário aqui. E já que o rev. não inaugurou este blog com um post tipo: “Sejam bem-vindos, meu objetivo aqui é...” Atrevo-me a dizer o que você/internauta encontrará neste canal, que certamente será uma referência para muitos.

- Publicações, sempre de abordagem diferenciada –textos raros, por pouco se enquadrar nas categorias do “universo editorial atual” – verdadeiras contribuições para que as pessoas se tornem mais resistentes com o poder da esperança, mais justas, mesmo estando cada vez mais duro ser honesto, enfim, mais humanas.

Verdade ou mentira reverendo?
Ab,
Sergio

Carolina disse...

Maravilha!!!!!

Como sempre, suas mensagens são maravilhosas, infelizmente estamos vivendo em uma época em que mentir faz parte da vida da maior parte da sociedade,algumas pessoas mentem e acabam acreditando em sua própria mentira, de tão acostumadas que estão a mentir.
Ainda bem que temos homens de Deus como o senhor para abrir os olhos dessas pessoas!!!

Parabéns.

God bless you.

bjus

Verine disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gisele Virange disse...

Agostinho de Hipona escreveu no ano de 395 um tratado sobre este mal intitulado De mendacio - Sobre a mentira. Depois, em 420, escreveu outro Contra mendacium - Contra a mentira. Este filósofo se torna muito atual, pois no seu tempo havia os priscilianos que achavam que podiam ser falso para se defenderem. A boa intenção livraria da culpabilidade. Bem diz o ditado: a História se repete! Dizer a verdade é dizer o que a coisa é. Mentir intrinsecamente é querer enganar, tapear, iludir, burlar, lograr, embaçar, embair. Por isto há uma perversidade inata na mentira que é um ato extremamente negativo. Por isto a mentira nunca, em circunstância alguma, é necessária.

Gisele Virange.

Seja bem vindo!!
Deus o abençoe.

Gisele Virange disse...

Há uma diferença essencial, radical, absoluta entre a mentira e a verdade. Mentir é uma inclinação tão marcante do ser humano falível, contingente que a Bíblia diz claramente: "Todo homem é mentiroso" (Sl. 115,11; Rm. 3,4) É claro que há graus de gravidade a serem analisados, indo o ser pensante desde uma mera imperfeição até a gravíssimos delitos. Existe uma complexidade marcante na falsidade. Multiplicam-se os gêneros de mentira.
O mentiroso não compreende que o homem de bem coloca sua honra no próprio mérito. Quem se entrega à mentira desconhece que esta é uma das mais ignóbeis cicatrizes que afeiam uma existência humana. A mentira mora nos corações pequenos e leva à vilania. O verdadeiro castigo do mentiroso está em que ele ignora que é possível enganar alguém muito tempo; tapear a muitos certo período, mas que é impossível enganar a todos o tempo todo, porque lá no fundo do espírito do homem está o amor à verdade e como proclamou Jesus o mais sábios dos homens, dado que era também Deus: "a verdade vos libertará"! (Jo. 8,32).

Um forte abraço, meu querido pastor.

Pr. Jubert Araujo disse...

O que é a verdade? Usar a palavra verdade religiosamente, tem um pouco de hipocrisia. Você anunciaria o esconderijo de um filho para os seus possiveis assassinos? Caso fizesse, o ato deixaria de ser nobre e passaria ser tolo. Devemos proteger o que é vital, pois a vida está sobre o que é "moral"