Pelo Rev. Paulo Cesar Lima
As cenas são dantescas. Mas tudo mudou no Brasil depois dos depoimentos do Deputado Roberto Jefferson na CPI dos Correios. As colocações feitas pelo Deputado petebista abalaram e transformaram a estrutura da ética e da moral no país, dando-lhes configurações diferentes.
Na atual conjuntura brasileira, a honestidade não é mais elemento qualitativo, mas quantitativo. Ou seja: honestidade, depois da ética jeffersoniana, não é mais vista como essência; é ato esporádico de “bom moço”. Isto porque verdade e mentira, elementos sempre antagônicos na realidade histórica dos seres humanos, se misturaram.
A declaração bombástica do Deputado Federal “Sou homem e igual a qualquer um de vocês!” trouxe de volta o cartesianismo emancipador de consciências oprimidas e o proibido silogismo casuístico: (1) errar é humano; (2) Roberto Jefferson é homem; (3) logo, Jefferson pode errar.
O “bom” deputado, através das suas premissas bem articuladas, relativizou seus erros e macrovalorizou sua confissão. Mais: o Deputado petebista dispara contra seus pares que nenhum deputado federal gasta menos que um milhão e meio de reais em uma campanha; no entanto, declara que gastou apenas cento e cinqüenta mil. Mais: nenhum candidato ao senado gasta menos que três milhões de reais na sua campanha. No entanto, declara que gastou duzentos e cinqüenta mil reais. As revelações do Deputado Roberto Jefferson colocaram seus pares em saia justa e em situação pior do que a dele, que, pelo menos, fala a verdade. A linha de conduta do parlamentar petebista cria uma nova modalidade na ética da política brasileira: errar é direito; confessar é dever. A descaracterização do ser humano como pessoa de bem chega a níveis tão alarmantes que Roberto Jefferson de bandido passa a mocinho, de criminoso a testemunha da verdade. Impasse: Como é que o Congresso Federal, diante de fatos tão contundentes e reais, terá condições morais para julgar o deputado Roberto Jefferson?
É preciso ressaltar, entretanto, que os erros do Deputado Federal Roberto Jefferson não são atos isolados, esporádicos que, ao longo dos seus 23 anos de vida pública, ele cometeu. De acordo com suas declarações, percebe-se que sua vida pública foi sempre pautada por um estilo de vida corrupto.
Mas não importa. Entre tapas e beijos, malas pretas pra lá, malhas pretas pra cá, uma coisa é certa: o que o mentiroso diz é verdade.
“Quem não tem pecado, atire a primeira pedra”
Poucos são os textos bíblicos com demonstração tão eficaz e revelação surpreendente sobre a leveza do ser do homem brasileiro em julgar os erros dos outros sem olhar os seus próprios do que a passagem sagrada que fala da mulher pega em adultério. O comovente episódio nos fornece elementos suficientes com os quais podemos ler a atitude do povo em meio ao mar de lama que inundou Brasília nos últimos anos.
De um lado, nós temos como pano de fundo da narrativa bíblica a mulher flagrada em ato de pecado. Do outro, homens “santos” dizem-se desonrados pela conduta pecaminosa da judia vilã e querem sua morte. A cena histórica configura-se como pedagogia. O Filho de Deus, escrevendo na areia em silêncio misterioso, resiste aos apelos dos “santos” para que Ele julgue a atitude da pobre mulher.
Os homens que acusavam a mulher eram modelos morais. Só que em face da pergunta de Jesus, “quem não tem pecado, atire a primeira pedra?” a debandada foi geral. Semelhante crítica foi a do sambista brasileiro que, na década de 90, põe em xeque a moral brasileira: “Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão!”
Aqueles homens “santos” tiveram que enfrentar o fato inexorável que, na maioria das vezes, a indignação pelo ato errado dos outros, é só uma tentativa de esconder o lado negro das nossas perversões pessoais. Quase sempre, toda ação revoltosa em querer punir alguém é uma tentativa de tirar alguma coisa que está nos incomodando. Os homens da lei foram confrontados por Jesus pelo lado da sua interioridade, pois Jesus mostra que o desejo de fazer o mesmo que o outro fez é uma realidade avassaladora na vida do mais honestos. E detalhe: todos nós somos capazes de fazer pior do que o outro. Por isso o que o outro fez de errado ameaça tanto os que gostariam de ter feito ou aqueles que continuam fazendo.
O comportamento de alguns parlamentares envolvidos com o esquema do mensalão diante do depoimento do deputado petebista é a mais pura evidência de que usamos várias máscaras para ocultarmos o nosso verdadeiro rosto.
A Ética do Mentiroso
Hoje, nós temos uma ética antes e depois de Roberto Jefferson. O parlamentar petebista construiu uma nova forma de entender a hierarquia de necessidades quando a questão em discussão é a mentira. Esta é, sem síntese, a ética Jefersoniana:
1. Mentir é lucrativo
2. Todos nós mentimos
3. Ninguém é mais ou menos mentiroso que qualquer um
4. Mentira é coisa de político, verdade é coisa de homem
5. O mentiroso às vezes diz mais verdades do que o que acha que é verdadeiro
6. A mentira é uma neurose obsessiva de quem sempre foi forçado a falar a verdade.
Incrível, mas as exposições do Deputado Federal Roberto Jefferson viraram itens de uma peça teatral referente à decadência da moral brasileira – alguém que fala verdades fundamentado em experiências criminosas. Por isso, depois de Roberto Jefferson nunca mais o Brasil será o mesmo. No entanto, o motivo fundamental que levou o parlamentar petebista falar a verdade foi um só: não querer ir sozinho para o “inferno”.
As cenas são dantescas. Mas tudo mudou no Brasil depois dos depoimentos do Deputado Roberto Jefferson na CPI dos Correios. As colocações feitas pelo Deputado petebista abalaram e transformaram a estrutura da ética e da moral no país, dando-lhes configurações diferentes.
Na atual conjuntura brasileira, a honestidade não é mais elemento qualitativo, mas quantitativo. Ou seja: honestidade, depois da ética jeffersoniana, não é mais vista como essência; é ato esporádico de “bom moço”. Isto porque verdade e mentira, elementos sempre antagônicos na realidade histórica dos seres humanos, se misturaram.
A declaração bombástica do Deputado Federal “Sou homem e igual a qualquer um de vocês!” trouxe de volta o cartesianismo emancipador de consciências oprimidas e o proibido silogismo casuístico: (1) errar é humano; (2) Roberto Jefferson é homem; (3) logo, Jefferson pode errar.
O “bom” deputado, através das suas premissas bem articuladas, relativizou seus erros e macrovalorizou sua confissão. Mais: o Deputado petebista dispara contra seus pares que nenhum deputado federal gasta menos que um milhão e meio de reais em uma campanha; no entanto, declara que gastou apenas cento e cinqüenta mil. Mais: nenhum candidato ao senado gasta menos que três milhões de reais na sua campanha. No entanto, declara que gastou duzentos e cinqüenta mil reais. As revelações do Deputado Roberto Jefferson colocaram seus pares em saia justa e em situação pior do que a dele, que, pelo menos, fala a verdade. A linha de conduta do parlamentar petebista cria uma nova modalidade na ética da política brasileira: errar é direito; confessar é dever. A descaracterização do ser humano como pessoa de bem chega a níveis tão alarmantes que Roberto Jefferson de bandido passa a mocinho, de criminoso a testemunha da verdade. Impasse: Como é que o Congresso Federal, diante de fatos tão contundentes e reais, terá condições morais para julgar o deputado Roberto Jefferson?
É preciso ressaltar, entretanto, que os erros do Deputado Federal Roberto Jefferson não são atos isolados, esporádicos que, ao longo dos seus 23 anos de vida pública, ele cometeu. De acordo com suas declarações, percebe-se que sua vida pública foi sempre pautada por um estilo de vida corrupto.
Mas não importa. Entre tapas e beijos, malas pretas pra lá, malhas pretas pra cá, uma coisa é certa: o que o mentiroso diz é verdade.
“Quem não tem pecado, atire a primeira pedra”
Poucos são os textos bíblicos com demonstração tão eficaz e revelação surpreendente sobre a leveza do ser do homem brasileiro em julgar os erros dos outros sem olhar os seus próprios do que a passagem sagrada que fala da mulher pega em adultério. O comovente episódio nos fornece elementos suficientes com os quais podemos ler a atitude do povo em meio ao mar de lama que inundou Brasília nos últimos anos.
De um lado, nós temos como pano de fundo da narrativa bíblica a mulher flagrada em ato de pecado. Do outro, homens “santos” dizem-se desonrados pela conduta pecaminosa da judia vilã e querem sua morte. A cena histórica configura-se como pedagogia. O Filho de Deus, escrevendo na areia em silêncio misterioso, resiste aos apelos dos “santos” para que Ele julgue a atitude da pobre mulher.
Os homens que acusavam a mulher eram modelos morais. Só que em face da pergunta de Jesus, “quem não tem pecado, atire a primeira pedra?” a debandada foi geral. Semelhante crítica foi a do sambista brasileiro que, na década de 90, põe em xeque a moral brasileira: “Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão!”
Aqueles homens “santos” tiveram que enfrentar o fato inexorável que, na maioria das vezes, a indignação pelo ato errado dos outros, é só uma tentativa de esconder o lado negro das nossas perversões pessoais. Quase sempre, toda ação revoltosa em querer punir alguém é uma tentativa de tirar alguma coisa que está nos incomodando. Os homens da lei foram confrontados por Jesus pelo lado da sua interioridade, pois Jesus mostra que o desejo de fazer o mesmo que o outro fez é uma realidade avassaladora na vida do mais honestos. E detalhe: todos nós somos capazes de fazer pior do que o outro. Por isso o que o outro fez de errado ameaça tanto os que gostariam de ter feito ou aqueles que continuam fazendo.
O comportamento de alguns parlamentares envolvidos com o esquema do mensalão diante do depoimento do deputado petebista é a mais pura evidência de que usamos várias máscaras para ocultarmos o nosso verdadeiro rosto.
A Ética do Mentiroso
Hoje, nós temos uma ética antes e depois de Roberto Jefferson. O parlamentar petebista construiu uma nova forma de entender a hierarquia de necessidades quando a questão em discussão é a mentira. Esta é, sem síntese, a ética Jefersoniana:
1. Mentir é lucrativo
2. Todos nós mentimos
3. Ninguém é mais ou menos mentiroso que qualquer um
4. Mentira é coisa de político, verdade é coisa de homem
5. O mentiroso às vezes diz mais verdades do que o que acha que é verdadeiro
6. A mentira é uma neurose obsessiva de quem sempre foi forçado a falar a verdade.
Incrível, mas as exposições do Deputado Federal Roberto Jefferson viraram itens de uma peça teatral referente à decadência da moral brasileira – alguém que fala verdades fundamentado em experiências criminosas. Por isso, depois de Roberto Jefferson nunca mais o Brasil será o mesmo. No entanto, o motivo fundamental que levou o parlamentar petebista falar a verdade foi um só: não querer ir sozinho para o “inferno”.
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